segunda-feira, 19 de julho de 2010

Cápitulo 1.2


Flashback




A ansiedade tomava conta de mim, não conseguia ficar parada, rodeava o quarto e roía minhas unhas. Chequei mais uma vez meu visual e borrifei mais perfume em meu pescoço. Estava com medo, porém tentada a me aventurar. Já eram 10 horas da noite e James ainda não tinha chegado, isso me preocupava um pouco, não que eu o achasse irresponsável, mas sim porque a festa de Lucy iria começar a poucos minutos e não poderia perder um instante sequer. Ela era minha melhor amiga desde a 4ª série, quando ainda brincávamos de boneca e fingíamos ser adultas. Engraçado que naquela época meu sonho era ter 20,30 anos, porque assim as pessoas iriam me levar mais a sério, mas atualmente a única coisa que não quero é ficar mais velha. Tenho 17 anos e não tenho a mínima vontade de fazer 18. Sei que ter 18 anos é a fase onde todos te impõem responsabilidade e dever, e isso é o que eu menos quero nessa vida. A única desvantagem de não ter 18, para mim, é não poder ter um carro e conseqüentemente não poder dirigir. Esse é o único motivo de ter inveja das pessoas que atingiram a maioridade. Estou numa época em que você já é levado a sério e apesar disso pode se divertir o quanto quiser, e por isso, vou à festa de aniversário de Lucy, que completará 18 anos. Ao contrário de mim, ela está super radiante, porque depois da comemoração ela viajará SOZINHA para Londres, por 3 meses. É, não posso negar que isso tudo é o máximo, mas ainda continuo com a mesma opinião sobre se tornar adulto.


Estou tão absorta em meus pensamentos que mal percebo o barulho que vem da minha janela como se fossem pedras. JAMES. Não me contive e deu um pequeno grito. Instintivamente pressionei a minha boca para que não saísse mais nenhum som, não queria que meus pais soubessem que iria sair tão tarde da noite para uma festa de uma adolescente rebelde que faria 18 anos. Tá, eu sei que isso é errado, infantil até, mas essa festa vai ser lendária e eu PRECISO estar lá, sem contar que ela é minha amiga há anos e preciso me despedir dela, e desejar boa viagem. Viu? Não há nenhuma delinqüência nisso. Ah, talvez tenha, mas é por uma boa causa, depois resolvo tudo em casa.


Corro pra janela e abro-a sem fazer nenhum barulho. Olho para baixo e o vejo sorrindo pra mim. Um sorriso tão tentador, que quase esqueço da minha bolsa e do presente de Lucy. Volto rapidamente para a sacada da minha janela, com tudo em mãos agora e jogo para James que os agarra facilmente. Ah, como ele está lindo hoje. Não que ele não fosse no dia-a-dia, mas aquela jaqueta preta de couro e seus cabelos castanhos levemente esvoaçados por conta vento me deixava ainda mais caidinha por ele. Agradeço pelo meu quarto ser no primeiro andar porque facilita muito mais essas fugas necessárias. Que aliás é a minha primeira, mas me sinto como uma expert. Existem sentimentos que nos levam a fazer coisas inacreditáveis, inimagináveis e até, por vezes, patéticas. Pulo da janela para a grama do quintal , pisando devagar e com um passo de cada vez, chego ao muro de um metro e meio de altura que é um pouco menor que eu. Seguro na parte de cima do muro mas não faço muita força temendo que estrague minhas unhas recém-pintadas. Meu vestido é quase arrancado quando passo para o outro lado daquele muro áspero, mas ‘Thanks God’, ainda está em bom estado.

Começo a tirar a poeira que cobria o meu vestido roxo freneticamente, xingando baixinho o pedreiro que não lixou o muro. De repente, olho para o lado e percebo James me encarando e rindo levemente.


- Essas fugas pareciam bem mais legais e divertidas em filmes –comento ainda sacudindo minha roupa


Ele dá uma gargalhada gostosa, que até rio junto.

-Não se preocupe Ash,você está linda. – respondeu sério com um olhar indecifrável, se aproximando de mim e me abraçando tão forte, que não o quero mais soltar.


Enrubesço um pouco, sorrio e abaixo a cabeça à procura de uma poeirinha que não existia. Ele sempre tinha esse poder de me deixar corada, que eu particularmente odiava. O conheci a 2 anos atrás no início do Ensino Médio, mal falava com ele e só a 1 mês somos amigos de verdade. Só amigos, infelizmente.


-Vamos? – Ele diz apontando para o seu carro vermelho-sangue.


-Claro, não o há tempo a perder -digo.
 
James me ergue segurando em minhas mãos e abraça a minha cintura me ajudando a caminhar naquela rua de paralelepípedos. Não é fácil calçando um salto agulha, porém agradeço quem teve essa brilhante idéia. Trocamos olhares ligeiramente e sorrimos, sua mão quente envolta do meu corpo me aquece internamente e me apoio ainda mais nele sentindo sua respiração também quente sobre minha cabeça, me sentindo segura, me sentindo firme, me sentindo em paz, fecho os olhos e por um instante esqueço que tenho uma festa para ir.

Continua...

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Capítulo 1.1


Abri os olhos, mas só consegui enxergar tudo embaçado e esbranquiçado. Onde eu estava? Forcei minha visão novamente e percebi que estava dentro de um carro, um carro totalmente estraçalhado, sem portas nem janelas, os vidros rachados e alguns cacos caindo sobre minha pele. Estava sentada numa posição muito desconfortável, mas me sentia ótima. É, essa foi por pouco. Mas não me lembro de nada. Por que sofri esse acidente? Estico um pouco as costas e tento visualizar melhor a minha situação. Vejo meu reflexo em um dos vidros. Não estou com nenhuma dor, nem cortes, nem ossos fraturados. Olho para o meu lado e vejo sangue, muito sangue. Mas não vinha de meu corpo. Viro o meu pescoço para o banco do motorista, um homem, com uma bela aparência mas que parecia estar morrendo. Um machucado enorme em sua cabeça latejava. Seus olhos piscavam freneticamente e sua boca abria, fechava, suplicando ajuda. Arranquei um pedaço de pano de minha camisa e tentei fazer um curativo em seu ferimento, foi em vão, o sangue continuava a escorrer. Um aperto forte em meu coração, eu conhecia aquela pessoa, mas de onde? Até que o vejo esticando sua mão e tocando em outra. Tinha outra pessoa lá? Ele abre a boca e consegue dizer entre soluços: "Amor, te amo pra sempre". Viro bruscamente em busca daquela pessoa. Vejo uma mulher esguia, muito bem vestida, muito parecida com... Não é possível! Eu estou morta. 

Bem ali, ao meu lado, uma réplica de mim, só que morta. Morta. Essa palavra que me soa tão distante e inalcansável, não consigo perceber suas reais medidas. Eu estou tão viva, consigo me mexer, falar. Não. Não posso estar morta. Isso deve ser fruto da minha mente ainda confusa, sofri um acidente, ainda estou recuperando os meus sentidos. Mas tudo parece tão real agora, aqui. A não ser que... A não ser que...

A sirene começa a tocar. Ah, que bom que chamaram a ambulância - penso. Percorro meu olhar sobre homem ao meu lado que se assusta inconscientemente com o alto barulho do carro e de suas luzes ofuscantes, e começa a se debater no assento. Chego bem perto dele segurando os seus braços já fracos, brancos. Porém, não consigo contê-los. Não estou tão forte assim.

-Tudo vai ficar bem – sussuro em seus ouvidos. Meio que me acalmando também.

Dois homens altos saem da ambulância trazendo duas macas. Um deles abaixa a cabeça até encontrar meus olhos, por um instante. Eu encontro os seus olhos mas estão tão distantes de mim, que me pergunto se estou mesmo olhando para eles. Eu passei despercebida para aquele homem. Ele não me viu.

- Ei, volta aqui! Eu também preciso ser levada! -Grito.

O enfermeiro carrega James pelos braços até a maca mais próxima e começa a imobilizá-lo. James, o nome dele é James. Percebo que estou começando a recordar os fatos. Estávamos numa festa. Agora sim, eu lembro.

continua...